MOSAICOS DE TRADIÇÃO ANTIGA
Por FRA DIÁVOLO
Os "tesouros maravilhosos"
perdidos outrora vão sendo reconquistados pelos
Aladinos da Humanidade moderna
Revista Dhâranâ
Dhâranâ nº 99 a 101 –
Janeiro a Setembro de 1939 – Ano XII
Redator : Prof. Henrique
José de Souza
I
Desde tempos que repousam no fundo
nebuloso da mais remota pré historia, uma super-evoluída Humanidade, obedecendo
aos desígnios da Lei suprema que mantém o equilíbrio das forças cósmico-universais,
vem guiando nossa imatura humanidade nos mistérios da sua própria evolução; sem
ferir, todavia, essa lei sagrada e inviolável a que estão submetidos,
fatalmente, homens e povos - lei de causa e efeito, ação e reação, lei de
Responsabilidade.
Tais protetores -
"previsores": "promiteos" - que são os nossos genuínos pais
ou Pitris espirituais, compreendem a enigmática hierarquia dos Rishis, dos
Bhante Jaul, Choans ou Jinas, designados ainda por outros nomes genéricos que
variam multifariamente, segundo as representações e funções desses super-homens
na face da terra.
Presidem a formação e
desenvolvimento das raças, o florescer das civilizações através das quais evolui
a mônada, seguindo o místico itinerário de Io ou Yo - Jo ou Isis - que
atravessa os continentes, nessa prodigiosa marcha que vai em busca sempre das
plagas redentoras duma Nova Canaãn; - marcha onde transluz de mil formas o
símbolo do eterno peregrino, o idealista "cavaleiro andante, ou imortal Édipo
da coleante estrada dos tempos; marcha encabeçada por um mentor, inspirador ou
dirigente espiritual de homens, o Manú: o pensador mais excelso, homem
representativo duma hoste de pensadores, um protótipo, um Mestre, enfim, que
deixa um nome na alma de cada povo, sendo, para os hebreus Noé ou Moisés; para
os Aztecas, Moiska; para os incas, Manco-Capac; para os gregos, Orfeu e
Mercúrio; para os latinos, Netuno Pentannus, o "herói da pentalfa" ou
Pensamento- para os bardos irlandeses, Ogma, o grande; para os egípcios,
Thot-Hermes; para os caldeus, Xísthruros; para os parsis, Zoroastro; para os ários
primitivos, Ra, Ar ou Áries; para os nórdicos, Odím; para os líbios, Dido etc.,
etc.
O serpentear da peregrinação dos povos
sulcando todo o planeta, guarda um sentido esotérico inelutável, pese o sorriso
despicativamente compassivo do céptico espírito ocidental. Houve uma Revelação
primitiva transmitida aos patriarcas da raça humana.
Max Muíler manifestou, certa vez, sua
incredulidade quanto ao que afirma essa tradição. Comentando o fato com a
escritora Radha Bai, o maior sanscritista da época, o Svami Dayanand Sarasvati
riu-se, dizendo: "Si Max Muíler fosse Brahman, poderia levá-lo a uma
cripta ou gupta próximo de OkhieMath, nos Himalaias. Ali, o sábio europeu
constataria que todas as riquezas culturais do Oriente que até hoje cruzaram as
negras águas do Kalapani - o oceano - limitam-se a uns poucos fragmentos
de copias desfeitas, relativos a algumas passagens dos nossos livros sagrados.
Existiu uma Revelação Primitiva e, que ainda se conserva no presente. Longe de
perder-se para o mundo, reaparecerá em dia oportuno.. Todavia, os
"mlechchhas" - europeus - terão de aguardar algum tempo mais."
Era a Religião-Ciência ou
Solar, a primeva Sabedoria das Idades, Religião da Natureza e do Espírito, a
Gupta-Vidya ou Doutrina Arcaica, por outro nome Teosofia - doutrina dos gnósticos
alexandrinos ou neoplatônicos dos séculos III e IV, com o filosofo (auto-didático
ou do "Caminho Direto") Amônio Sacas á frente; doutrina igualmente
chamada dos "filaleteos" ou amantes da Verdade; dos "ecléticos",
os que bebiam sua doutrina na de todas as escolas; os "harmonistas",
ou buscadores da unidade na multiplicidade e, enfim, dos
"analogistas" ou herméticos; os que aplicavam, sempre, a miraculosa
chave da Tábua esmeraldina de Hermés, o Trimegisto: "o que está em cima é,
analogicamente, igual ao que ,está embaixo afim de que se opere o
mistério da Harmonia ou dos Vários no Uno".
Sobre os mais longínquos e
brumosos horizontes dos tempos onde se perdem as origens dos conhecimentos
humanos, têm lançado luzes deslumbradoras as traduções dos Vedas, Puranas e
Brahmanes, e as múltiplas expedições cientificas simplesmente á epiderme e não
ás entranhas dessas esfinges geográficas que são o Tibete, o Gobi e a Mongólia,
afora a obra ciclópica da principesca e ainda mal compreendida autora da
"Doutrina Secreta", Helena Petrovna Blavatsky, a excelsa rebelde e
mártir do século passado, e o portentoso monumento lítero-cientifico, a obra
jina ou iniciática "Mago de Lorosan", o eminente polígrafo
espanhol Mario Roso de Luna.
Um golpe de vista atento sobre o quadro
das religiões, filosofias, simbologia e filologia comparadas deixa-nos logo
entrever a identidade da fonte, - a Sabedoria troncal perdida - a unidade
intrínseca de todos os conhecimentos humanos no seu infinito polimorfismo. Os
majestosos Vedas, anteriores a todas as .religiões do mundo, ha milênios
sustentam o apotegma irrebatível: "A Verdade é uma só embora os homens lhe
dêem nomes diferentes".
A primitiva
Religião-Ciência, com o decorrer dos tempos e das civilizações, se foi debilitando
á proporção que adoecia a vertical das prístinas virtudes dos varões.
Multifracionada, a Religião-Ciência se ocultava mais e mais sob crescentes
desfigurações grosseiras e interpretações degradantes.
O Avatumsaka Suthra, uma
das obras de maior relevo entre as obras mestras da remota e sábia antigüidade
oriental, ensina: "tendo todas as criaturas conscientes repudiado a
Verdade e abraçado o erro, foi criado o Oculto Conhecimento - o iniciático -
que no Oriente se chama Gupta Vidya ou Alaya Vijnana" e no Ocidente Gnoses
ou Conhecimento.
O estudo acérrimo da
filologia e religiões comparadas, já convenceu aos orientalistas que inúmeros
manuscritos sumiram-se não deixando o mais leve rasto.
Recolhidos ao invulnerável
Sancta Sanctorum - os reinos da Agartha, Erdemi ou Shamballah etc., o
"mundo subterrâneo", o. "pais dos deuses" - das relíquias
máximas dos tempos vencidos, dos povos que se foram e das raças porvindouras,
continham aqueles documentos as verdadeiras chaves das obras existentes na
atualidade, mas de todo intraduzíveis; no seu real espírito, para os tratadistas
europeus.
Desafiando a voragem destruidora dos
séculos e as ousadias ardilosas da curiosidade vã e egoísta, riquezas inauditas
de sabedoria acham-se perfeitamente conservadas no âmago dos Himalaias, nas
criptas das lamaserias tibetanas, detentoras dos mais raros anais de toda a
perdida antiguidade; nas Fraternidades ocultas do deserto de Gobi, nos recantos
iniciáticos da Mongólia, por toda a Ásia, enfim, e até mesmo pelas florestas,
povoados e redondezas de grandes centros das Américas espalham-se as
bibliotecas proibidas ou jinas, protegidas pelas redes intransponíveis da
"maya budhista ou hipnótica". Não ha poder de perspicácia ou engenho
científico humanos capazes de descobrir as entradas para esse mundo de
realidades mais assombrosas que todos os sonhos da literatura secular erigidos
em monumentos de gloria na face da terra; pois tais monumentos são meros
reflexos morrentes e parcialíssimos das realidades Aghartinas. Mil e um
processos ocultos defendem as portas dessa 'arca" ou "barca" que
é a Agharta dos Jinas. Deriva dai a tradição das "Barcas Salvadoras",
tão profundamente adulterada no campo da letra letal das religiões. Os termos Djim,
Dhin, Jina, Choan, Dzyan, Zain, Genio, Grin ou Grim, etc., se referem a algo
miraculoso, de procedência superior, habitando um mundo diferente do nosso-
embora neste interpenetrado - agindo em esferas ou dimensões cuja realidade
escapa aos nossos três fundamentais meios perceptivos: o ouvido, que nos dá a
percepção da linha; a vista, que nos permite considerar a superfície e o tato,
pelo qual apreciamos os volumes. Segundo Roso de Luna, Jina ou Gína é, com
efeito, desinência grega feminina, contraposta á masculina "andros",
formando ambas a mais verdadeira e expressiva que é "andrógina" - ou
"andrógino" - como. a sexual características das teogonias - Hermés,
Apelo, Krishna, Rama, Gautama, O Buddha, Apolônio, Jesus, ou melhor, Jeoshua
Ben Pandira, Zoroastro, Mahoma e tantos outros, inclusive os Reis de Edon, bíblicos,
reis divinos das 3a e 4a raças, etc. - e em geral de
todas as entidades de nível superior ao da atual humanidade, como foi característica
desta mesma, no seu início, antes de ser submetida á triste lei dos animais,
conforme se depreende dos Diálogos platônicos, que tratam da "dupla
sexualidade" dos primitivos homens até que os deuses, "invejosos,
dividiram-nos em duas metades unisexuadas e recíprocas"...
Entre as muitas e gigantescas obras que
ficaram na face do globo, depois de profundamente veladas, ou seja destituídas
de suas chaves-mestras, pode apontar-se algumas, como as de Lao-Tsé, o predecessor
de Confúcio. Escreveu 930 livros sobre Ética e religião, e 70 tratados de
magia. Os pesquisadores europeus já confessaram que o texto do Tao te King-, o
coração da doutrina lautseniana e a escritura sagrada do Tao tsi é um mundo
impenetrável sem o "sésamo" dos comentários exegéticos. Para traduzir
a obra de Lao-tsé, o erudito Estanislao Julien teve de recorrer a mais de
sessenta comentadores, o mais antigo dos quais procedia do ano 183 antes de J.
C. Os comentários, porém, que nossos sinólogos têm manuseado estão muito
longe de ser os legítimos documentos ocultos, mas simples textos despistadores,
intencionalmente preparados, como inocentes "jardins de infância",
para as mentes dos profanos; e profanos, segundo os Jinas, os iniciados, os
guardiães sempiternos da Ciência Integral, são todos aqueles que não
conquistaram, pelos seus próprios esforços, os requisitos morais e Intelectuais
exigidos aos que ousam querer levantar uma ponta do Véu de Isis ou o véu do
mistério cósmico que enlaça os homens e astros e todos os formidáveis
segredos que palpitam sensíveis no grande seio-mater: a Natureza.
A mesma providencial censura remarcou os
cinco King e quatro Shu de Confúcio; as escrituras caldaícas, donde nasceu
nossa Bíblia; os 1.028 hinos - "mantras": combinação mágica de sons,
que envolve segredos cabalísticos ou matemática transcendental, de efeitos fenomênicos
surpreendentes nos planos visíveis e invisíveis - hinos, dizíamos, do Rig-Veda,
de chave também perdida; os 325 volumes do Kampir e do Tampir, escritos pelos
buddhistas do norte - o cânone sagrado dessas obras abrange 84.000 tratados, quase
todos, isto é, os principais, também perdidos para os europeus; o misteriosíssimo
Livro de Dzyan, o livro-cume, por excelência, outra obra que desafia os maiores
criptografos ocidentais da filosofia oculta; as imponentes ruínas literárias do
inescrutável Egito e as da Ásia- Central - os volumes atribuídos a Thot
Hermes, e os Puranas indús; o Livro dos Números Caldeu e até o Pentateuco; os
documentos de incalculável valor que repousam nas entranhas das 23 cidades
sepultadas do Tchertchen-Darya tibetano, etc., etc.
Com estes fatos e muitos outros que se
vieram impondo, esmagadoramente, desde 1820 á positivista ciência européia,
mantém-se de pé a irrefragável afirmativa da tradição arcaica, quanto á existência
da Ciência-Religião, difundida por todo o mundo antigo e pré-histórico como uma
Revelação Primitiva dos augustos patriarcas da raça humana, os Rishis.
A ciência Sagrada, assim chamada por
motivo da sua insuperável excelsitude e ilimitado domínio do mundo das
causas, foi rigorosamente subtraída aos homens não por fanático egoísmo, mas
atendendo ás razoes da mais equilibrada sensatez, pois seu conhecimento
completo faculta o manejo de tremendas forças cósmicas, e o mundo evidentemente
ainda não está preparado para que se lhe confie tamanhos segredos - espantosos
poderes, tanto aplicáveis para o bem como para o mal, dependendo, penas, da
índole dos seus detentores, e portanto, arma perigosíssima que jamais será confiada
a uma humanidade tão cruelmente antifraterna como a nossa, dominada por paixões
só por si capazes de armar panoramas como o que defrontamos na trágica
hora que passa...
O "maravilhoso tesouro"
perdido outrora reaparece, sim, e vai sendo devolvido aos poucos á humanidade,
sempre que no mundo se patenteia um maior desenvolvimento intelectual a par
duma melhor e efetiva compreensão fraterna entre os homens - o verdadeiro culto
do Espírito refletido no cultivo real dos bons costumes, traduzindo na forma de
iniludível amor um respeito espontâneo ás sábias 1eis da natureza.
Para que os
"tesouros aladinescos" apareçam - como já têm muitas e irrecusáveis
formas - é necessário que se afirme a evolução humana, menos pelo espetáculo
vertiginoso do progresso no raso campo das cousas materiais, que pelo
aprimoramento inequívoco dos princípios nitidamente espirituais.
Felicíssima intuição alimentou a pena de
Bailley, quando escreveu que "a ciência do Ocidente limita-se a fragmentos
e relíquias dum oculto sistema de ciência asiática mais antigo que tudo e infinitamente
mais perfeito." O prof. –Max Muller, um dos orientalistas mais altamente
conceituados na esfera dos pontífices da ciência ocidental, disse, que até 1820
os livros dos brahmanes "magos e budistas" eram desconhecidos;
duvidava-se até de sua própria existência e não havia na Europa um só erudito capaz
de traduzir uma única linha dos Vedas, do Zend-Avesta ou do Tripitaka, e agora
está demonstrado que os Vedas pertencem á remotíssima antigüidade,
representando a conservação daquelas obras uma verdadeira maravilha. Asseverou,
ainda, que a descoberta das antigas escrituras e bíblias dos Ários e sua
tradução em línguas européias significa uma conquista tão gloriosa como a da
escritura cuneiforme babilônica e a hieroglífica egípcia. Acrescentou que
aquela descoberta oferece um soberbo conjunto, de ciências as mais complexas e
avançadas, donde se derivam nossas astrologia, lingüística e mitologia
comparadas. Graças a tais conhecimentos, foi possível começar-se a estudar os
longos períodos da mais recuada pré-história.
E Einstein, sem duvida uma cabeça que sobressai
entre os luminares do primeiro plano da ciência hodierna, estuda, como é
sabido, "astronomia cabalística" e nos seus
"lazeres"... cultiva a musica, precisamente através do instrumento
mais iniciático que é o violino... E é natural que estas evidencias nos
reportem à famosa sentença estampada na fachada do templo délfico, advertindo
que ali não entraria quem ignorasse matemática e musica... Ademais, o
descobridor da "Lei da Relatividade" já afirmou que "o sistema
fllosófico-religioso buddhista é o único que oferece solução a todos os problemas
da vida e da morte."
E Roso de Luna, tratando
largamente da "Relatividade einsteiniana" em confrontos empolgantes
com algumas faces da Sabedoria iniciática das Idades, Gupta Vidya ou Teosofia,
aponta numa das suas conclusões:
"La consabida doctrina de la
"maya" buddhista o relatividad fugaz e ilusión de todo lo
manifestado, ya aparece mucho antes en aquel viejo libro jaino titulado
Âmaramayakosha (de a particula privativa; mara, amarga realidad que nos rodea;
maya, llusión, y kosha, envoltura, o sea, literalmente, doctrina filosofica
"contra la envoltura de la llama-da realidad".
Poderíamos continuar as citações deste
gênero, porem, estender-se-iam excessivamente; baste-nos considerar que, homens
como os supramencionados, não gracejam, por certo, com a responsabilidade das
suas palavras em face da significação dos seus nomes no conceito universal.
MOSAICOS DE TRADIÇÃO ANTIGA
Por FRA DIÁVOLO
Não houve, no início, Mistérios
Iniciáticos. - A Humanidade
degradou a Sabedoria Primitivo; e
perdendo-a, castigou-se
pelas suas próprias mãos
II
SEGUNDO o que perpetuam as tradições da Doutrina Secreta não
houve Mistérios Iniciáticos durante a primeira Idade da Atlântica, - idade de
Ouro ou Satya Yuga. O Conhecimento Integral - Vidya, Gnana, Gnosis - era
propriedade de todos. Os homens ainda não haviam produzido o mal, porque sua
natureza era mais divina que humana. Imperava universalmente uma felicidade
paradisíaca. E viver no Paraíso, - Para: além; Iso: Is, lo ou Isis - em
linguagem teosófica significa a vida além do Véu de Isis ou manto de Mayá: a
ilusão dos sentidos. Iniciar-se equivale procurar a Vida por detrás do sagrado
e isíaco velame; beber na fonte dos Mistérios Maiores ciência de eleitos e
super-homens - no seio mater ou Sanctum Sanctorum das Verdades Primitivas -
resguardadas severamente da malícia e irresponsabilidade dos polo: ou seja o
ignaro vulgo - os conhecimentos superiores, a unidade das cósmicas e secretas
leis que estabelecem, dentro de mágico equilíbrio, as mil e uma1 relações
maravilhosas que interligam o homem, a natureza e os astros. E' renascer para o
Eterno abandonando o túmulo deste triste, restrito, contraditório e lastimoso
mundo tridimensional, fictício e vicioso plano de efeitos onde se entronizam
mentiras irônicas como o Acaso, tentando em vão explicar o desconhecido; e
outras tantas mentiras engenhosas procurando distrair as angústias impotentes
da Dúvida ancestral, em face do desfile intérmino de pálidas formas incertas
que jamais souberam quem são, donde vieram e para ande vão... E' o drama do
cárcere de que fala Platão, onde, cegos espiritualmente, ou seja de costa para
a luz, admitimos como plena realidade um mero jogo de sombras cabriolando nas
paredes das nossas limitações psíco-físicas. Prossegue a tradição dizendo, que,
ao se multiplicar o gênero humano multiplicaram-se, também, as idiossincrasias
do corpo, da alma e da mente e o espírito encarnado manifestou-se débil. Nas
mentes menos cultivadas arraigaram-se exageros naturalistas que fecundaram as
superstições. Das paixões e desejos até então ignorados, nasceu o egoísmo.
Começaram os homens a abusar do seu poder e sabedoria. E veio impor-se, então,
a necessidade de reduzir-se o número dos conhecedores. Assim começou a Iniciação2.
Cada pais adotou um especial sistema
religioso, de acordo com a capacidade intelectual do povo e suas necessidades
espirituais; porém, como os sábios prescindissem do culto por simples formalidades,
restringiram a muito poucos o verdadeiro e avançado conhecimento. A necessidade
de se encobrir a genuína face dos altos ensinamentos a fim de pô-los a salvo de
possíveis profanações, se deixou sentir mais e mais em cada geração, e assim, o
véu a princípio tênue se foi tornando vez mais denso, á medida que tomava maior
corpo o egoísmo pessoal, até que, por fim, se converteu em Mistério.
Estabeleceram-se os
Mistérios em todos os povos e países procurando evitarem-se, ao mesmo tempo,
quaisquer contendas e erros, facultando-se ás massas profanas doutrinas
inofensivas, adaptadas ás inteligências vulgares, não como crenças fanáticas,
mas na forma de fábulas e contos infantis de sadio fundo moral. Em resumo a
tradição, acentua, nas entrelinhas, que os filosóficos e complexos ensinamentos
ministrados no adito dos templos Iniciáticos; as observações lógicas e
científicas dos fenômenos naturais, que conduzem o homem á segura posse dos
segredos das eternas verdades, não devem cair no domínio popular, pois os olhos
do espírito devem prevalecer sobre os olhos do corpo diante da nudez integral
da Mater-Sabedoria ou Isis desvelada...
Decorreram os tempos, e na quinta raça,
a ária, sacerdotes brâmanes inescrupulosos - por fatal hereditariedade atlante3
- prevalecendo-se da singeleza das crenças que imbuíam a alma popular, já de si
sempre propensa á cega psicose idolátrica, começaram a forjar falsos deuses,
afastando-se completamente da única e universal Causa das causas. Seguindo o
infeliz exemplo os demais povos pouco a pouco foram, também,
antropomorfizando e sepultando no barro bruto da letra dogmática
as mais elevadas "verdades metafísicas'' e a viva e inefável
linguagem dos símbolos4: alma dinâmica de todo ensinamento
Iniciático, 'inassimilável para aqueles que não'' re-nasceram de si mesmos,
mercê do fogo fecundante da libertadora rebeldia de Prometeu, conquistando a
sempre esquiva e agreste Natureza - conquista da visão mental do simbolismo
unitário da Vida em todas suas manifestações.
Oculta sob o simbolismo
religioso e a mitologia de todos os povos perpassa, avassaladora, a rede do
sistema científico e místico da Arcaica Sabedoria que marchou, no início, do
Ocidente para o Oriente - deixando por toda a bacia mediterrânea as maçãs de
ouro do atlante Jardim das Hespérides - avançando, depois, no
sentido inverso - Ecce Oriente Lux! - para realizar o iniciático Itinerário de
IO: o coleio da serpente do cósmico mistério que conduz as raças e civilizações
a determinada meta; a serpente que procura morder a cauda - o Orobóros - grego
ou seja o cabalístico símbolo da fusão da multiplicidade na unidade; a
integração do efêmero no eterno; a continua movimentação- do vário buscando,
por força de secreta lei, a harmonia do uno - o círculo giratório da evolução,
dentro do qual universos e humanidades surgem; se desenvolvem e se transformam
sob as continuas reações da vida-energia transmudando-se em vida-consciência. O
perene êxodo de Io retrata em seu mágico sentido a marcha espiritual da
humanidade: as mônadas, unidades ou divinas centelhas do Logos ou Conciência-Total;
- mônadas que emigram, peregrinantes de corpo em corpo, de vida em vida, através
das raças e continentes, pela senda infinita e tortuosa dos tempos; peregrinação
já na Grécia simbolizada nas corridas olímpicas dos atletas, que passavam de
mão em mão um facho ignescente. A pista era o Templo, como Templo-Mór iniciático
é a nossa própria Terra; as etapas, os séculos ou mesmo os ciclos raciais,
caracterizando-se cada um deles por determinado estado de consciência entre os
sete a serem desenvolvidos plenamente pela humanidade; os atletas, as gerações;
o facho, o progresso espiritual da mônada, a fagulha imperecível que procura
tornar-se chama, isto é, a expansão das máximas possibilidades da nossa mente
até á fusão da mente finita do homem na Infinita do universo, fusão que exprime
a posse integral do mundo das causas supremas, ou posse da Percepção Direta que
é o fastígio da evolução espiritual do homem sobre a Terra: o Adeptado.
Platão, o divino, distinguia três classes
de mente ou graus de inteligência que ora é modesta fagulha, ora
elevada chama ou poderoso Fogo, correspondendo a primeira ao homem vulgar, de
acanhada mentalidade, desservido de qualquer intuição, mero joguete ainda das
paixões: o fermento grosseiro da animalidade; esse é o tipo gregário demasiado
doméstico, o espírito prático, entranhado amigo dos fatos palpáveis,
incapaz de guiar-se por si próprio é guiado por bons ou maus Pastores, pastóforos
ou "condutores do gado humano".
A segunda classe de mente, a reflexiva e
compreensiva que luta e desenvolve crescentes esforços por se libertar das
cousas materiais, almejando, insatisfeita sempre, um mundo ideal de conhecimentos
maiores, o mundo das profundas acústicas espirituais, é a mente humana propriamente
dita, a inteligência que caracteriza os homens de ciência, os espíritos amantes
das investigações superiores, já muito acima do nível da percepção objetiva do
rebanho imenso ruminando, imprecavido, todas as fórmulas exuberantes da rotina
feliz e estúpida, perfeitamente acomodado nos limites da falsa ordem
preestabelecida.
A terceira classe de mente, a intuitiva
ou espiritual, distingue a todos os homens geniais, os extraordinários rebeldes
pensantes, grandes transformadores e construtores; são os Prometeus Imortais, -
os Homens-síntese, símbolos encarnados, vivos e ativos. Fazem da sua vida
toda um risco5, um gesto de arrojo amplo em meio do
rebanho viciado pelos pastores sombrios...; - esse
temerário gesto que almeja despertar mais e mais a consciência coletiva,
apontando-lhe um horizonte desconhecido da Verdade; verdade que nunca é de hoje
nem de ontem, mas de todos os tempos, apenas esquecida ou recoberta sob os véus
de conspurcações multiformes.
Aquele arrojo mental que transforma e
cria é, na sua essência uma manifestação de amor, uma expressão humana de
intima solidariedade com esse próprio amor impessoal e libérrimo da Natureza,
sempre renovadora, construindo e transformando tudo mau grado os oráculos
estacionários dos falsos ídolos. Fundem-se nessas almas eleitas experiências de
mundos outrora conquistados; a consciência das forças que operam a evolução
universal reflete-se nessas almas, que na linguagem das suas lutas não cessam
de clamar multimodamente: "Redimi-te da tua QUEDA, ó homem; levanta-te e
anda! Salva-te pelas tuas próprias mãos, CONHECENDO-TE A TI MESMO! ". São
os que se antecipam á compreensão normal das épocas em que surgem como
fulgurantes bólides espirituais. Devassam o Mistério e roubam-lhe chamas de
segredos que veem constituir outras tantas ciências e coletivamente a Ciência.
1O número 1001 encerra, e os legítimos iniciados o sabem, um
sentido esotérico de supremo alcance. Nessa representação numérica acha-se
decomposta uma das chaves mais antigas e preciosas da Sabedoria dos Rishis ou
Ciência Iniciática das Idades que se foi velando e revelando com o decorrer dos
tempos.
Símbolo dos símbolos, os mais augustos, palpita em seu
hermetismo o coração de mistérios sagrados, conhecimentos
de capital valor em face do conjunto da Doutrina Arcaica, régios
tesouros que os Jinas não retiram da sua Arca milenar, para facultá-los a
determinados centros iniciáticos, senão sob o clima espiritual de ciclos
propícios relacionados com os
movimentos oculto-raciais ou manúsicos.
Os mais conspícuos estudiosos da complexa Filosofia Oculta; os
laureados decifradores da linguagem secreta ou
simbólica da antiguidade pré-histórica, e mesmo os reais valores
ocultistas – que perfazem, seja dito de passagem, um
número muito reduzido – quando não vinculados, de certo modo,
aos lídimos centros da milenária Sudha-Dharma-Mandalam desconhecem, e não
suspeitam sequer todo o alcance do sétuplo significado intrínseco desse
hieróglifo maravilhoso que é o isíaco 1001.
Entretanto, que maior simplicidade que a aparência gráfica
desses signos formando tão familiaríssimo termo numérico,
caracteres que também representam letras do nosso alfabeto?
Nessa simplicidade mesma sói residir um dos principais véus que
encobrem as profundas verdades da Sabedoria
Perdida ou Ciência Primitiva, multifragmentada desde remotas
eras nas línguas, religiões, filosofias e mitologias de todos os povos.
Essa simplicidade constitui o véu sutil que perpassa sobre
inúmeros fenômenos da Natureza e da vida humana, onde
se escondem leis estupendas que só pouco a pouco e
imperfeitamente, a matemática, a biologia, a física e a química, etc., vão descobrindo.
Teremos sempre de recordar o velho axioma cabalista: “Se queres
ver no invisível abre bem teus olhos à sua projeção
no visível”.
O singular impressionista moderno, Ramon Gomez de la Serna, o
emotivo novelista e “psicólogo do inanimado”, teve
agudo acerto ao dizer numa das suas “greguerias”: “cada olhar
morre onde cai”. Sim; morre o superficial, aquele que se
limita à epiderme das cousas e deixa de lhes viver o espírito,
sua íntima expressão, sua forma subjetiva, sua outra vida, enfim, seu outro
mundo.
Devemos aprender a olhar com olhar de primeira vez as cousas
mais comuns. Todas escondem uma verdade e um
encanto desconhecidos. Não obstante nos serem tangíveis, como
que vivem numa dimensão diferente em relação a esta ou aquela sua
particularidade – tantas vezes de essencial importância – que nos está vedada,
em virtude de nosso retardamento perceptivo, nossa precária sensibilidade,
nossas internas inércias, nosso obscurecimento psicomental que as prodigiosas yogas
– exercícios teosóficos – desfazem quando praticadas sob a direção pessoal de
mestres, em legítimos colégios iniciáticos, e não colhidas em livros, onde, –
sem exceção – por ignorância inocente ou mercantilíssima falta de escrúpulos, tais
ensinamentos sutis são ministrados de modo deturpado, o que importa num grande
perigo pelas graves perturbações que costumam trazer aos seus desprevenidos
praticantes, os incautos curiosos.
Em futuros Mosaicos e com mais oportunidades faremos novos
comentários em torno do sibilino e arquiprecioso 1001,
quando tratarmos da famosa obra Mil e Uma Noites, essa tão
sublime quão incompreendida coleção de contos iniciáticos: tradições de origem
ário-parsi-indú, ou mais acertadamente de origem atlante.
2Iniciação ou caminho de Regeneração, isto é, a nova geração ou
renascimento: o interno e espiritual, conseguido
pelo próprio esforço do homem intuído, disposto à reconquista da
Fortuna outrora perdida – seus prístinos e divinos direitos: o Conhecimento Integral que o Véu de Ísis
encobre.
3 A
Atlântida, o continente de Kusha ou País de Mú, foi o campo de evolução da
Quarta Raça, que desenvolveu o estado de consciência psíquico, anímico ou
lunar, relacionado com o plano astral: a esfera das sensações, das paixões, dos
delíquios caóticos dos sentidos.
Na raça atlante, governada por Lua e Saturno, predominou –
sobretudo entre os Toltecas – a prática da magia negra num grau imponderável
como potência corruptora e destruidora.
Impõe-se um estudo aprofundado e, principalmente, documentado,
isto é, um estudo deveras iniciático, ou seja, o que se procede no seio de
grandes Fraternidades esotéricas – repositórios da Sabedoria Tradicional das
Idades – para que se possa alcançar uma compreensão precisa do que representou,
realmente, a magia negra atlante; – as causas da catastrófica submersão do
enorme continente – cuja tradição se conserva em tantos países sob o mítico
relato do Dilúvio Universal – “a queda dos Deuses” e sua repercussão histórica
pelos tempos em fora até nossos dias.
Em data de 7 de outubro de 1937, o prof. Castaño Ferreira,
instrutor da Sociedade Teosófica Brasileira, realizou nesta
instituição, notável conferência pública, amplamente noticiada
na imprensa desta capital, sob o título: “A Atlântida Redimida”.
Era o seguinte o sumário dessa palestra cultural, que
descortinou aspectos inteiramente inéditos da Filosofia Oculta, e marcou uma
das maiores afluências à sede social da S. T. B.: “A queda dos Anjos e as
tradições sagradas da antiguidade. O misterioso continente de Kusha. A poderosa
civilização dos vermelhos. A origem dos antropóides. Roma-kapura e a ilha de Poseidonis.
Referências dos clássicos. A Sétima Sub-Raça e o trabalho da S. T. B. em plena
Quinta-Raça ariana”.
Em palestras seguintes o prof. Castaño Ferreira retornou ao
fascinante tema, descerrando-lhe novos aspectos qual seja o do “secreto
trabalho da Grande Fraternidade Branca para resgatar os Deuses caídos”. Os
estudiosos do assunto que tiveram oportunidade de assistir a tais conferências,
enriqueceram-se, por certo, de elementos inusitados para dilucidações preciosas
no vasto e obscuro campo desse tema, cujos reais fundamentos jamais foram
postos em letra de forma. Sem dúvida os ouvintes se aperceberam do lídimo sentido
dessas palestras, que não apenas visavam oferecer um luxo ocioso de ilustração
exótica, rebuscando sucessos estritamente limitados a um nebuloso passado
pré-histórico... Não. Homens e Humanidades, como as cousas e os dias se reencontram...
A cara velada e inquietante do inexplicável de hoje é sempre o
fantasma duma realidade de ontem que se nos fugiu da
memória, mas nem por isso deixa de viver entranhada em nós
outros, sem recordar-nos seu nome, como sombra inexorável
escrava de escravos, como grande incógnita – agente duma lei mal
conhecida que para uns é o vago Destino e para outros
Carma, lei de ação e reação, causa e efeito, em suma, Lei de
Responsabilidade.
Na tela da vida de cada homem como da humanidade, aquele inexplicável
vem escrever sempre, no instante exato, sua
sentença irretorquível, na linguagem convincente dos fatos, que
de mil formas traduzem o eterno Mane Thecel Phares, cujo
verdadeiro, ou melhor, cabalístico sentido é: “pesado, medido e
contado”.
Há mistérios duma antiguidade remota, feita de glórias e
tragédias supremas, que vêm repercutindo através dos
tempos e vibram sob as características atuais da marcha
evolutiva dos povos, donde ressalta, pelo grandioso desempenho
que lhe cabe por Lei no concerto das civilizações, a nossa
gente, a raça sintética que se vem formando neste rincão
abençoado pelos deuses, Raça Ibero-Americana para uns ou Sétima
Sub-Raça do ciclo ário para nós outros, teósofos
ocultistas congregados em torno da causa que fez nascer o Grande
Loto Espiritual do Novo Mundo, a Sociedade Teosófica
Brasileira.
Altamente intuída foi a frase do maior estadista do mundo
hodierno, o presidente Roosevelt, proferida em memorável
discurso: “Esta geração tem um encontro marcado com o Destino”.
Sim. Um encontro decisivo, sob o signo do Novo Ciclo
espiritual-oculto que tem assinalado, – desde 1883 – através de
acontecimentos de forte relevo histórico, o término do Ecce
Oriente Lux e o início da Era Redentora consubstanciada no lema
lançado, em 1931, pela S. T. B.: ECCE OCCIDENTE LUX !
4 Após a
queda da Atlântida os conceitos da Sabedoria Primitiva espalharam-se pelas
diversas teogonias jaina, budistas, bramânica, ibérica, nórdica, latina, grega,
etc., na forma de flamantes símbolos que, grosseiramente adulterados, chegaram
até nossa época.
Impotente para atingir a transcendência e excelsitude de tais
símbolos, a miopia do postivismo agnóstico tem se
bastado com as negativas sistemáticas, tão solenes como rasas,
indocumentadas e tendenciosas.
Um dos mais arcaicos e gráficos destes símbolos é o da “A Ave
Sagrada”, Brahmâ-Kâla-Hamsa ou o “Eterno Cisne”.
Diz Roso de Luna que o nome misterioso de Hamsa, o cisne, passou
à Europa nos tempos remotíssimos das primeiras
invasões árias, dando origem a tradições sem fim, já detidamente
estudadas no capítulo Religión, leyendas y mito, da obra
Conferências Teosóficas en America del Sur, daquele autor, e em
múltiplas passagens desse seu outro livro-mestre Wagner
Mitólogo y Ocultista, onde são comentadas, com surpreendente
poder interpretador assentado numa cultura avassalante, as
obras do colosso de Baireuth, relativas a Lohengrin como
“Cavaleiro do Cisne”, o Cisne sagrado do Grial ou Graal, morto
pelo jovem Parsifal antes da sua conversão, a mágica Ave que
revela a Sigfredo, depois da morte do Dragão, o mistério de
Brunhilda redeada de chamas na petera, pedra ou roca iniciática,
etc, etc.
Bonilla San Martin consagrou quase todo seu livro, El Mito de
Psiquis, a tão fundamental legenda primeva que, através
do Brabante e dos Nibelungo-Sagas chegou incólume até nós, e a
História da Idade Média, por sua vez, tem uma das suas
páginas mais expressivas no Hamsa teutônica ou fraternidade
liberadora e comercial que refreou as tiranias de reis e nobres
criando, sob a proteção do “Cisne sagrado do comércio que
emancipa os povos e lhes dá cultura”, aquela vastíssima
federação sábia que se estendeu desde a Holanda e Suiça até os
confins finlandeses do Báltico, e que encontra seu eco nos
célebres Maestros Cantores de Nuremberg.
A palavra som provém do sânscrito swanas, cujo radical swan quer
dizer: ressoar, retinir, etc. O Hamsa é o cisne védico criador dos universos;
veículo do som eterno, o Om sagrado das vetustas tradições orientais.
Swan significa ainda “cisne ou ave sagrada” que, ao beirar a
morte entoa um canto estranho – velada elegia dum adeus à vida – que tão belas
inspirações tem dado aos artistas.
Este som é o Logos platônico, os trovões do Apocalipse, as
trombetas das visões de Ezequiel, a “Voz divina” ou o
“Akasha-Vani” dos indús, o Vach, donde procede o termo vaca e
daí a expressão “vaca sagrada”, símbolo tão deturpado por
fanáticos, fátuos irresponsáveis e ignorantes ilustrados quer do
ocidente como do oriente.
O Vach, “verbo sagrado ou Logos”, se manifesta como Sarasvati, a
deusa da palavra e da eloquência entre os indús. É
ainda representado no Swan-Yin dos chineses ou “A Voz
melodiosa”, “A Mãe da Sabedoria”, origem dos nomes Lohans e
Sohans, usados pelos seus sacerdotes e também pelos primtivos
Arhats budistas em virtude dos belos hinos que entoavam.
A própria palavra Lohengrin – Lohan-grin ou gwin, jim o gina,
etc. – provém do Swan Ritter brabantino do “Cavaleiro do Cisne”.
5Quem quer que sobressaia do vulgar, pela afirmativa forte duma
verdade maior, encontra inteira solidariedade no
lídimo teósofo, que é livre pensador por excelência, e não
sacrifica nunca um reconhecimento justo a estultos preconceitos
de crença, credo, casta ou cor. Toda atitude plena de virilidade
espiritual liberadora é uma atitude teosófica.
Apraz-nos, pois, reproduzir nesta anotação alguns dos belos
conceitos filosóficos, perfeita lição de energia dum pastor
evangélico, o pensador que se apresenta sob o expressivo
pseudônimo de Noel Vesper como autor do livro “Antecipações a
uma moral do risco”:
“A vida é ação. Ação
equivale sempre a sacrifício. Sacrifício duma parte da realidade, duma parte do
já existente e
logrado, que consumamos por amor ao ideal, ao que ainda não
existe nem temos certeza de conseguir.
“Toda ação é, pois, um sacrifício do presente ao mistério do
futuro. É um risco.
“O risco constitui o
sentido moral da vida. A Ética tem, assim, um caráter dinâmico, empreendedor,
ousado. Condena a
abstenção, o repouso. A virtude está sempre em marcha. Já não
disse Jesus que aquele que quer salvar sua alma – e alma é
fama – perde-la-á, e quem a perder, isto é, que a arrisca a todo
momento, somente esse haverá de salvá-la?
“O risco é também o
sentido religioso da vida humana. Deus, que poderia ter-se mantido em passiva e
imóvel
perfeição, arriscou-se criando um mundo que livremente evolui
com todas as eventualidade dramáticas da vida, e todas as
trágicas possibilidades do mal. O inimigo, o Antideus, surge
então. Para esta Teologia dualista, diante do Poder divino, que é
criação, vontade, risco, há um Poder demoníaco, encarnação da
tendência a ficar na quietude, na inatividade, na segura e
negativa beatitude”...
MOSAICOS DE TRADIÇAO
ANTIGA
por FRÁ DIÁVOLO
A esfinge terrível de todos
os tempos; e a marcha epopeica dos
Édipos modernos:
Revista Dhâranâ
Dhâranâ nº 99 a 101 –
Janeiro a Setembro de 1939 – Ano XII
Redator : Prof. Henrique
José de Souza 12
Conclusão
A "Lei da Analogia"13 é a chave fundamental , a
sutil e intuitiva mestra orientadora de toda a pesquisa teosófica em torno dos
problemas da Vida, sejam patenteados nos relevos do mundo objetivo, ou dinamizados
nas esferas onde vibram as mentes eleitas, o hiperlúcido, supra-sensível e
ilimitado orbe da abstração espiritual, a pura Ideologia ou Metafísica.
12 O
aparecimento dessa Entidade deu-se na cidade de São Salvador, na Bahia, no dia
15 de setembro de 1883, à meia noite em ponto, quando do Oriente desaparecia,
com Ramakrishna, o centro donde até então se irradiava a Luz Espiritual sobre o
mundo.
Nasceu
sob a égide – como exigia a Lei – de Mercúrio em Virgo, visto a missão de que
vinha incumbido estar relacionada com a Quinta Raça-Mãe que, devendo
desenvolver o Mental, é dirigida por Buda-Mercúrio. Sob seus ombros pesa o
formidável encargo, não só de difundir as idéias teosóficas ou a Sabedoria
Iniciática das Idades, mas também de preparar o advento da Sétima Sub-Raça Ariana.
E para isso Ele construiu a grande Barca que é a S.T.B.
13 Alguns
conceitos de M. Roso de Luna sobre o teosófico método analógico: “A base da
Analógica é, com efeito, tríplice. Por um lado cifra-se na célebre Chave de
Hermes Trimegisto, que diz: “O que está em cima é como o que está em baixo,
para que se realizem os mistérios da cósmica Harmonia, ou seja a manifestação
do Uno no múltiplo (Theos-Kaos-Kosmos). Apoia-se por outro no axioma enedimensional
cabalista, que reza: “Se queres ver no Invisível, abre teus olhos à sua
projeção no visível”, e por outro, ao fim, na lei fundamental da Numeração, ou
da Árvore simbólica de todas as teogonias (Árvore de Igdrasil, Norso, da Vida,
de Bodi, Ruminal, das Hespérides, etc., que recebe um nome em cada Teogonia).
A
referida lei se formula assim: “A realidade manifestada, de qualquer ordem que
seja é mera unidade integradora de uma ordem
superior,
e assim, até o infinito, tal como acontece coma Numeração, a qual reconhece em
si nenhum limite efetivo”.
A
própria ciência positiva, sem se dar conta e superando-se a si própria, há
tempos vem aplicando a Lei da Analogia e com ela
arrancando
portentosos segredos do Mistério. Sirvam de exemplo, entre os mil que se
poderia enumerar, o descobrimento de Netuno
e da
estrela companheira de Sírio, ambos realizados pelo novo cálculo analógico e
sem prévia observação direta do respectivo astro; o
descobrimento
químico do eca-alumínio e do eca-boro (depois gálio e escândio) por meras
considerações de analogias
mendeleffianas
que permitiram predizer seus pesos atômicos, densidades e demais propriedades
químicas e físicas, antes de ter
positivamente
nas mãos os correspondentes corpos; ou enfim, as portentosas séries de álcoois
que depois foram sendo encontrados
– e não
todos – em a Natureza, com a observação e a experiência.
“Porque o segredo fundamental da Ciência não é
outro senão o do Método simbólico, analógico, oriental, teosófico, ou como hoje
devemos
chamá-lo, e que tem dois momentos: um, o prévio do bom conhecimento de um ciclo
ou qualquer fenômeno por métodos
anteriores;
outro, o da imediata aplicação nele da lei de analogia”.
“Mais ainda, em cada momento da história de
uma ciência o método simbólico ou analógico, no qual tão eméritos
se mostraram
sempre
os povos antigos, pode melhorar de modo notável o que habitualmente denominamos
“a última palavra da ciência” como se
disséssemos,
“sua última moda”, preparando ulteriores descobrimentos,, e disso, embora
pareça digressão, queremos deixar
consignado
aqui um extenso exemplo, antes de entrarmos no problema da morte. Os cientistas
soem , efetivamente, seguir uma
marcha
pérfida contra tudo que lhes ensina a tradição do oriente, marcha caracterizada
por estes dois momentos: um – como sucedeu
com a
transmutação alquímica dos corpos simples – , quando ainda não o comprovaram
eles! Com seus métodos cretinos; outro
depois
que, guiados pelos ensinamentos orientais, penetrando em suas mentes à guisa de
intuições logram eles ! comprová-los.
Durante
a primeira época de ignorância do conhecimento intuído, no passado, chamam-nos
depreciativamente “superstições”, restos
de um
passado inculto”, maneiras infantis ou falsas de conhecer as coisas”, etc.;
porém, chegada a Segunda época, costumam
responder
aos que mencionam o velho fato já sabido, com um olímpico “isso já não é novo;
isso já está comprovado pela ciência”,
com a
mesma candidez do menino mostrando ao papal o mecanismo do brinquedo, e cujo
manejo aquele lhe mostrara antes,
quando
não com a clássica perfídia do comerciante que, ao comprar a mercadoria que não
tem e necessita, a desvaloriza com seu
desprezo,
sem prejuízo de, ao vendê-la depois, elogiá-la e até prendê-la nos cornos da
luz...” – (Tradução de H.F).
E todos os problemas,
filhos da nossa incompreensão ansiante em face do magnético desconhecido,
afinal se resumem num único, condicionados que sempre o são na sua essência ao
símbolo eviterno da tríplice pergunta do arcaico tema da Esfinge tebana que
encapsula o germe de quantas filosofias já frutificaram no seio dos povos, ao
calor desse nosso divino e secreto anseio de superação, o estudo da Esfinge
Humana:
DONDE VIMOS, QUEM SOMOS, PARA ONDE VAMOS?
Há um fascínio tenebroso na realidade que se oculta insondável e
absorvente sob a veste clássica da vetusta fábula, fascínio que a dúvida de
Hamlet, sofrida por todo homem de pensamento, em todas as épocas, sob todos os
climas, em cada problemática encruzilhada da sua peregrinação, buscando-se a si
mesmo, lutando pelo triunfo sobre as miragens cambiantes, sobre o demônio
especioso de sua impermanente personalidade mundana, através do
autoconhecimento que leva implícito, por lei de analogia, o conhecimento do
próprio Universo.
Na História do pensamento
humano, que é a odisseia do humano Titã, o deus que tombou e quer reerguer-se
edificando, apoiado na miraculosa tríade integrada pela mente, o coração e a
vontade, a pirâmide da sua evolução, quem não vê plasmada a epopéia do
eterno choque entre o atormentado peregrino, esquecido de sua origem divina -
ou seja ignorando as estupendas possibilidades adormecidas no imo do seu ser -
obscuro, intuitivamente nostálgico de paradisíaca felicidade antanho perdida14,
e o arraigado, fero enigma de todas as idades?
Quando já deixou o homem de ser assaltado pela multiforme
oniabarcadora e aculeante interpelação da Esfinge?
14 Embora
sob a s sombras pesadas da idade presente, a idade negra ou de ferro, – a Kali
Yuga, em língua sânscrita – que começou,
conforme
rezam os códigos bramânicos, com a morte de Krishna, há 5.035 anos mais ou
menos; a “idade da discórdia e do mal”,
segundo
Burnouf, o homem jamais deixou de dar expressão altívola a essa sua secreta e
inefável, imortal e transcendente saudade
daquele
perdido reinado da Verdade sem Véus, já magistralmente evocado na “As Aves” de
Aristófones ; na “A República”, de Platão;
na “O
País da Utopia”, de Thomaz Moore; na “A Eneida”, de Virgílio; no “O Paraíso
Perdido”, de Milton... enfim, a Era da Pureza
arcadiana
na qual “os deuses andavam pela terra conversando com os mortais” ... É a Idade
de Ouro; a Satya Yuga, hindu, ou o
Chatur
Juga, bramânico. Idéia e sonho inatos em todos nós, do País da Eterna
Primavera; da Ilha mágica guardando o mais sublime
Tesouro
de que todas as demais ilhas e tesouros legendários e novelescos são pobres e
atormentadoras reminiscências... ; do Jardim das
Hespérides
magnificente, de miraculosos frutos... Era, ilha ou país encantados da Paz e da
Felicidade, da Esperança Maior que já
se
chamou no mundo o Paraíso, bíblico: a Era de Juno e Saturno, romana; os Campos
Elíseos ou de Ignisfall, ogmicos; o Walhallah,
nórdico;
o Eden, corânico; o Devachan ou Reino dos Anjos, ário; o Amenti, egípcio; o
Reino do Pai, cristão; o Summer lan, espiritista,
etc. ...
Para guiar a humanidade - "a grande órfã" no dizer
místico e piedoso dos sábios da velha Aryavartha - atenuando-lhe a bruteza dos
tropeços na terrestre jornada expiatória, regeneradora ou iniciática; ajudá-la
a suportar o enorme fardo de penosa herança provinda, em tumultos históricos de
luzes e sombras potentes digladiando-se, dum passado que se afunda no vórtice
de perdidos tempos de régias derrocadas inenarráveis; e alentar a chama das
suas candorosas e heróicas esperanças acenando-lhe sempre como alvorada
promissora do Futuro, o Édipo imortal, em mil expressões humanizadas da divina
Lei que rege a Evolução toda, no Cosmos como no Homem, tem aparecido sempre
no mundo, no decorrer dos maiores e menores ciclos das civilizações.
Em todas as épocas e países, em cada raça e sub-raça tem surgido
esse Édipo; - os Manús: potência espiritual que preside o complexo
trabalho oculto da arregimentação e seleção das mônadas para a formação das
raças; os gigantescos místicos e pensadores, os gênios de primeira grandeza da
Ciência e da Arte, as altas vozes da mente iluminada que descortina as
Renascenças, que lança, enfim, o germe da luta das idéias impulsoras da grande
roda do Progresso - é o peregrino consciente, inspirador de quantos gestos
decisivos de liberação se conhecem na história da pugna da humana evolução, história
dos anseios profundos da alma coletiva torturada pelo abutre da sua própria
cegueira mental e os grilhões dos Césares insaciáveis.
Jamais deixou de caminhar ao lado das gerações, imprimindo-lhes
de acordo com as necessidades cíclicas e em propícios momentos históricos, sob
esta ou aquela formula místico-científica um sopro 15 vital da chamada Perdida Verdade16, a Religião Sabedoria17 que vem da antigüidade pré-histórica, magna síntese
de todos os conhecimentos que nos são possibilitados na face do planeta, a
Religião da Natureza e do Espírito, em suma, a sublime Teosofia das Idades que
palpita como imperecível germe no Organismo incompleto das religiões, no fundo
histórico de todas as mitologias18,
no âmago dos sistemas filosóficos, e fulgura, numa dimensão vedada aos olhos
das almas demasiado jovens - ou desintuídas - sob a veste fantasiosa da
lenda extasiante, da fábula, do mito, - do Símbolo afinal.
15 Todo o
gigantesco movimento de emancipação espiritual que foi a Renascença,
restabelecendo princípios esquecidos da Doutrina
Arcaica,
reivindicando em muitos aspectos a sabedoria dos antigos, e, para citar mais
alguns acontecimentos históricos como
impulsos
decisivos na marcha evolutiva da humanidade, o grandioso movimento arábico na
Espanha, as cruzadas, os descobrimentos
da
América e do Brasil , e a Revolução francesa representam apenas uma parte dos
frutos de titânica atividade oculta desenvolvida
durante
séculos entre a civilizações do Velho Mundo. Trabalho que, dimanando como
miraculoso alento ou renovador “sopro” de
determinados
e milenares centros esotéricos do Oriente, firmou-se gradativamente na Europa ,
em centros famosíssimos de cultura e
poderosas
Fraternidades Secretas; – “sopro” que provinha das plagas do Nilo – berço da
Maçonaria – dos Himalaias, e do Tibet...
Christian-Rosenkreutz,
Rogerio Bacon, Tomaz Moore, Arias Montano, Saint Germain , Cagliostro e ainda
tantos outros, encapuzados
no
anonimato, foram os Édipos daquelas épocas, isto é, velados guias,
inspiradores, ou libertadores de povos, heróis que souberam
dar
desempenho integral a tarefas de valor imponderável, trás o telão sobre cuja
face oposta se desenrola essa triste e abstrusa
comédia
– tal como é escrita –considerada enfaticamente pelos profanos como a HISTÓRIA
...
16 A
primeva Ciência-Religião universal, na realidade conservada integralmente no
seio das Fraternidades Secretas: arca eterna das
relíquias
dos máximos esplendores passados e de tesouros inimagináveis que são as
maravilhosas realidades das eras porvindouras.
Os
“cânones perdidos” , que não pouco tem deixado conturbadas as mentes
indagadoras da ciência oficia; a tradução de múltiplos
hieróglifos
que, inextricáveis até o presente, impassíveis ao desespero dos modernos
Champollion, Winckelmann, Schlieman,
Maspero,
etc., abruptos cortam-lhes em meio os mais ricos filões de conclusões
definitivas; assim como as chaves dos “milagres”
antigos
e dos fenômenos modernos em suas inexplicáveis feições, e a solução de inúmeros
problemas que até hoje desafiam o valor
dos
processos da investigação “séria”, não “visionária”, estritamente positivista,
acham-se nas mãos das fraternidades Secretas, cuja
incalculável
antigüidade de origem poderia ser comprovada à saciedade, se assim julgassem
acertado os Adeptos, ¾ senhores
da
chave
mestra e da pedra angular de todos os conhecimentos antigos e modernos ¾ com documentos surpreendentes, de capital
insuspeitável
importância, que além do mais imporiam uma retificação completa da História.
17 Religião
Sabedoria ou Ciência Religião primitiva, o grande sistema arcaico desde a
antigüidade pré-histórica conhecido como
ciência
Sagrada ou SABEDORIA, e a partir do século III da nossa era designado pelo
termo grego Teosofia, cujo exame etimológico
nos
demonstra não significa a sabedoria de um Deus – no sentido
antropomórfico que se dá hoje ao termo – mas Sabedoria Divina,
como
Ciência de cada um dos deuses, o Conhecimento Integral e místico possuído pelos
deuses e semi deuses, ou Ciência dos super
homens ;
Ciência da Magia ou super ciência , Ciência do oculto, a mesma do Ontem perdido
e que virá a ser, “dada a simétrica
regularidade
e reciprocidade de todos os fenômenos, entre eles o mais inefável de todos que
é o da evolução”, a Ciência do Amanhã
resplandecente
ou Era da remissão espiritual da humanidade.
Quando
nós outros teósofos, e, portanto, livres pensadores, empregamos o termo
religião, aludindo ao grande sistema arcaico,
alheamo-nos,
é óbvio, ao corrente sentido devocional, idolátrico ou fanático que se lhe
empresta.
Ligo,
Ligas, ligare, é
ligar ou unir em língua latina; e re-ligo, religas, religare, “ligar
duas vezes” ou reatar, é a genuína etimologia da
nossa
palavra religião. No puro e elevado sentido místico filosófico, usamos, pois, o
termo como designativo da dupla ligadura
espiritual
de fraternidade que os homens se devem entre si; – o duplo liame da Sabedoria e
do Amor, estabelecido basicamente, como
unidade
harmônica e ideal, nos ensinamentos religiosos transcendentes da
milenária e esquecida Religião da Natureza e do espírito,
Religião
Solar, Gupta Vidya ou Teosofia.
Nosso
afã de sincretistas, ecléticos, harmonistas e analogistas ou herméticos,
consiste precisamente, em tornar a ligar os fragmentos
da áurea
e Perdida Verdade; reintegrar ou reatar o colar mirífico e mágico da Sabedoria
Eterna; recompor em sua prístina pureza a
Doutrina
Arcaica e Secreta ou Ciência Iniciática das Idades que se acha multi-fracionada
e velada sob o adulterado simbolismo
religioso
de todos os povos; simbolismo que, depurado pelo teósofo lhe oferece hoje, tal
como o foi antanho uma linguagem universal
e
oculta: a Linguagem do Mistério ou dos Mestres e iniciados, que consta de sete
chaves relacionadas com os sete respectivos
mistérios
da Natureza, encerrados cada um em seu correspondente simbolismo filológico,
biológico, matemático, geométrico,
metafísico,
etc.
Amônio
Sacas e seus discípulos, os neoplatônicos, fundadores do sistema teosófico
eclético, foram os primeiros lançar o termo
Teosofia.
Por analogistas eram ainda designados em virtude do seu método para interpretar
as legendas sagradas, as tradições
esotéricas,
as narrativas teogônicas, mitos e mistérios, método baseado numa regra ou
princípio de Analogia ou correspondência.
Tudo que
se conhece acerca da grande Escola Eclética deve-se a Plotino Orígenes e
Longino, discípulos diletos de Amônio. Seus
conhecimentos
todos, seu amplo discernimento filosófico foram adquiridos com os Mahatmas da
Bactriana e da Índia.
18 Conquanto
pesem mais de vinte séculos sobre o desaparecimento de Platão, ainda hoje é
estudado, discutido e em suas obras
vão
desaltear-se, e nem sempre de honesto e grato modo confesso muitos expoentes da
inteligência e da cultura modernas. Já disse
Emerson
que em Platão se encontrará quanto os pensadores discutiam e escreviam.
A
filosofia platônica – o mais harmonioso Panteon do pensamento ocidental, aceso
de cobiçadas lâmpadas que são os segredos
culminantes
da humana natureza e do Universo – é um compêndio de perfeição insuperável dos
complexos sistemas da Aryavartha, a
Índia
antiga. O apaixonante esteta grego e iniciado nos altos mistérios da
antigüidade, foi, segundo a voz autorizada de H.P. Blavatsky,
na plena
acepção da palavra o maior filósofo da era pré-cristã em suas obras transluz grandiosamente
o espiritualismo e a metafísica
dos
profundos sábios védicos, que floresceram milhares de anos antes do autor d’ “A
República”, – Vyasa, Jaimine, Kápila, Vrihaspati e Sumantu.
O Real
Conhecimento era-lhe o norte, a inefável Ilha Branca interior onde
esplendia a unidade das sua s aspirações de legítimo sábio.
Platão
detestava o fictício, o fabuloso, o fantástico ociosos. Pedia, não se ignora ,
fossem coroados os vates sublimes e depois
desterrados
da República. É esse mesmo insuspeito Platão – que já se antecipara, como nos
demonstra notavelmente Will Durant, em
sua
“História de Filosofia”, à nossa Psicanálise – quem nos aponta, no Gorgias e
no Phedon, os mitos como veículos de grandes
verdades
bem dignas de serem aprendidas.
No seio
de cada mito ou legenda dum povo persiste uma verdade científica esquecida,
herdade do período antecedente de cultura.
Desta
sorte, trás a cabala , os textos védicos, os livros herméticos, os poemas
imortais, filhos desta ou daquela época, as lendas que
se
perpetuam e inspiram o gênio poético de todas as raças, desde o Mahabharata
hindu e o Popol Vuh quiché, até a Bíblia dos
hebreus
e toda a mitologia greco-romana, existe oculta, repassada nessa alquimia
ideológica e ideográfica do Símbolo, uma verdade
científica,
ora cosmogônica, ora antropológica, verdade que somente a Teosofia – tal como é
compreendida e praticada na Sociedade
Teosófica
Brasileira sob orientação mestra – consegue esclarecer de modo convincente,
segundo seus princípios metafísicos, seu
método
oriental mágico analógico, seu sistema de comparação e penetração além do
cascão da letra no terreno da filologia, mitologia,
cosmogonia,
etc.
Todavia,
vozes altissonantes e intuídas tem repercutido no ocidente, contrariando as
sentenças dos doutos que emprestam à Mitologia
um
sentido essencialmente fictício, inócuo, não lhe reconhecendo nenhum fundamento
histórico-científico. Entre esses verbos
enérgicos,
sem o temor de perder brilhos convencionais reivindicando com desassombro o
valor dos antigos, destaca-se o poeta e
egiptólogo
Gerard Massey, que assim se expressa:
“O Professor Max Müller afirmou durante trinta
nos que a Mitologia é uma enfermidade da linguagem e o fruto duma aberração
primitiva.
Os sábios expositores dos mitos solares apresentado o homem primitivo como
estupidamente guiado pelas desgrenhadas
fantasias...
A Mitologia foi um modo primitivo de pensar e estava baseada em fatos naturais
e comprováveis. Nela nada se vê de
irracional,
nem de insano quando considerada à luz da evolução. É o repositório mais
vetusto da ciência, e o dia em que torne a ser
corretamente
interpretada matará a quantas falsas teogonias tem dado origem
inconscientemente. Insânia é tomá-la por história
humana
ou revelação Divina embora haja “história” na maior parte das alegorias e
“mitos” da Índia e sob os quais se escondem
sucessos
reais. Quando as “falsas teologias” desaparecerem, encontrar-se-ão as lídimas
realidades pré-históricas”.
Contudo
o erudito e grave Max Müller reconhece que: “Há muitas coisas ainda incompreensíveis
para nós outros, e a linguagem
hieroglífica
dos antigos tão somente da traduz a metade dos pensamentos”. Müller, o mais
infatigável dos orientalistas, segundo a
autora
d’ “A Doutrina Secreta”, comparando o Popol Vuh na sua aparente
incongruência à não menos incompreendida e gloriosa
obra
inciática “As Mil e Uma Noites”, encontra no arcaico livro quiché, – cuja
autoria é atribuída a Ixtlilxochitl – “um sedimento de
conceitos
elevados sob uma superposição de quimeras sem sentido”. A verdade é que o egrégio
orientalista alemão – sem ligações
com
qualquer centro iniciático ou Fraternidades Secretas – aventurou-se a penetrar
o texto da formidável obra, desprovido, porém, das
apropriadas
chaves interpretadoras que o levariam ao fundo real e científico da preciosa
relíquia quiché, vazada na clássica linguagem
secreta
ou ocultista, roupagem alegórica ou... “quimeras sem sentido”. Não iniciado na
magna linguagem do Mistério, com seus
múltiplos
“dialetos”: linguagem adequada ou chaves, aturdido, diz Müller no seu
comentário: “de quando em quando há passagens
inteligíveis,
na página seguinte, porém, logo tudo se torna caótico”.
O Popol
Vuh – doutrina exotérica para as massas – é a Bíblia da nação quiché na sua
remota antigüidade. Encontram-se explicados
nos seus
mitos não só os acontecimentos históricos como os pré-históricos dos povos da
América Central: quíchuas, cakchiqueles,
toltecas,
mixecas, pinas, yumas, apaches, caddos, semínolas, astecas, tarascas, etc. A
tradução dos seus símbolos nos oferece a
crônica
empolgante das emigrações – problema até o presente, em muitos aspectos,
insolucionado pela ciência positiva – as guerras
de raça,
os cataclismos sofridos pelos referidos povos, etc., etc.
As
famosas narrativas do rei Arthur e seus cavaleiros da Távola Redonda ,
apreciadas apenas no colorido da letra, são meros contos
de fada;
todavia estão assentadas em fatos que integram a História da Inglaterra. E os
progressos da geologia tem tornado válidas
sobejamente,
de modo surpreendente acabrunhante para o orgulho de decantada kultur com seus
alardeados métodos positivistas,
algumas
asseverações de Homero na sua mitológica Odisséia, durante séculos
despreocupadamente admitidas como belas
alucinações
poéticas – recreativas “quimeras sem sentido” ...
Esse Christos- o iluminado - esse
Cavaleiro do Sol, aceso do amor que responde aos clamores do silêncio das dores
mais humildes; alvinitentes Cavaleiros do Cisne ou da Branca Magia, portadores
da chama dos supremos titanismos místicos, científicos e artísticos; o prodigioso
sem nome, de procedência ignota, sempre invocado pela alma aflita dos povos sob
os torvos céus das crises extremadas, esse Edipo - tão tristemente
incompreendido, mais enigmático que própria Esfinge e mil vezes degradado - já
tem sido chamado Buddha, o príncipe Sidharta, Krishna, Moisés, Hermes, Rama, Orfeu,
Mahoma, Zoroastro, Melki-Tsedek, Kunaton, Jeoshua Ben Pandira, o Jesus bíblico
- Vyasa, Tissoo, Confúcio, Lao-Tsé, etc., etc. Em conjunto formam a viva,
esplendorosa, walhaliahnesca arquitetura espiritual da multissecular e arquissecreta
Fraternidade, exotericamente denominada Shudda-Dharma-Mandalam - a excelsa
Fraternidade sem mácula - herdeira das maçãs de ouro ou Sabedoria do atlante
colégio iniciático pelos gregos chamado Jardim das Hespérides; a Loja Branca Suprema ou a ou Hierarquia
Oculta que aos destinos do mundo preside.
É o grande Esperado que, sob a forma
verdadeiramente homérica, epopéica ou simbólica do Herói humano, perpetuando
uma apoteose de nomes na memória da Humanidade, tem vindo recordar ao homem sua
divina estirpe, as poderosas possibilidades latentes nos arcanos da sua
tríplice natureza - física, psíquica e mental - como síntese mágica do
Universo; é, enfim, o próprio verbo da alma universal encarnada vibrando nas
trajetórias fulgurantes desse Cometa-Homem: o Iniciado do Ideal, que tem
vencido a Esfinge cruel da vida - a ignorância e seus filhos morbosos: a
superstição e o fanatismo - fazendo um rasgão maior ou menor no Véu de Isis, ao
formular em leis da ciência humana os Princípios fundamentais, que Leis
são, também, da Natureza.
Édipos foram outrora os imortais
iniciados na Mística Ciência transcendente, os renascidos de Isis toda
poderosa- "a que foi, é e será" - os gloriosos filhos espirituais dos
celebrados Mistérios, dos Mistérios profundamente vividos no ádito dos templos
de Tebas, Menfis, Luxor, Ur, Salen, Balbek, Líbano, Damasco, Elefantia, Elora,
Heliópolis, Benares, Kaleb, Lhassa, Trachi-Lumbo, Takura, Dodona, Samotrácia,
Mithra, Siracusa, Crotona, Roma, etc., etc., que deixaram na lousa dos tempos,
como testemunhos altiloquentes da portentosa Sabedoria-Religião primitiva,
nomes que se tornaram adjetivos de grandeza e sublimidade, fachos das
conquistas mentais dum passado de Sabedoria formidável, nos Mistérios
acrisolada19, e que se antecipou com muita altura20
aos maiores triunfos ideológicos, descobertas de metafísica e feitos ruidosos
de ciência experimental em que se acastela o orgulho do presente.
19 O
próprio gênio frívolo do mordaz e cético Voltaire, numa época imbuída da sua
influência, reconhecia os benefícios dos Mistérios,
ao dizer
que “entre o caos das superstições populares existia uma instituição que sempre
evitou a queda do homem na brutalidade
absoluta:
a dos Mistérios”.
E quando
sua sátira visitante mais se arrojava sobre os “falsos Zoroastros e Hermes”,
cem exumadas jóias bibliográficas zoroástricas
e
herméticas vinham Ter à desenfadada Europa como formal desmentido às
chocarrices acres do autor de “Cândido”.
20 Embotando
a vaniloqüência dos snobes intelectuais, enamorados dos preconceitos que tanto
regateiam aos antigos seus
extraordinários
méritos, pode descortinar-se aos olhos tímidos daqueles um mundo aturdidor de
argumentos inconcussos, que dia a dia
se
multiplicam, se ratificam e com maior vigor se impõem. É o corpo níveo da
Verdade Arcaica que surge desnuda, aqui e além, do
poço
lôbrego de prejuízos ancestrais; seu punho ergue soberano o espelho das
revelações deslumbradoras; e a seus pés, sem poder
fixá-la,
impotentes para contê-la, escorjam sombras negativas...
Nossa
época ainda de perto copia os antigos ¾ conservam-se
inalterados nomes arcaicos de instituições políticas como Senado,
Prefeito,
Cônsul, etc., ¾ e somente merece lamentar-se que o não
façam sempre de inteligente e digna maneira ao invés de motejarse
dos
filósofos de outrora, com cujas ideias se tem empavonado não poucas sumidades
hodiernas.
Lenta,
mas seguramente, restaurados vão sendo os valores culturais e espirituais dos
antigos; demonstrada e comprovada a realidade
do que
tem sido admitido, durante longos períodos, apenas como inócua ficção pelo
desenfado, a complacência “poseur” dos
luminares
da ciência oficial. Quanto mais se sucedem os progressos da arqueologia e da
filologia, tanto mais deprimentes são os
golpes
sobre as olímpicas negativas, o orgulho loquaz e os enarcizamentos dos modernos
em meio da flora clorótica e equívoca das
suas
novidades e descobertas.
“Tudo quanto hoje descobre a Ciência – diz M.
Roso de Luna – está expressado na linguagem poética e filosófica oriental dos
Vedas,
Brahmanas
e Puranas, como se vão encarregando de demonstrar os sanscritistas, previamente
informados pelos ensinamentos
arcaicos
contidos na Teosofia”.
A
propósito da identidade entre as divindades de Stonehenge e as de Delfos e
Babilônia, – Belo e o Dragão, Apolo e Pitón, Osíris e
Tifon,
diversos nomes são do mesmo par de divindades opostas – e a estreita semelhança
entre o Both-al da Irlanda, o Batylos
grego e
o Beth-el hebreu, diz Villemar: “A História pode alegar ignorância, porque não
caem sob seu domínio épocas tão distantes;
porém, a
lingüística tem soldado a cadeia rompida entre o Oriente e o Ocidente”.
Lemos em
Ísis sem Véu, de H.P.Blavatsky: “Os irmãos Champollion foram os primeiros
orientalistas europeus que, tomando pela mão
o
estudante de arqueologia, o conduziram às silenciosas criptas para lhe
demonstrarem que a civilização não teve seu berço no
Ocidente,
pois, “embora desconhecidas as origens do Egito, pela investigação histórica já
foram estudadas suas leis e costumes,
reconstruídas
suas cidades e catalogados seus reis e deuses ”. E indo mais longe ainda,
encontraremos ruínas pertencentes a
civilizações
de maior esplendor em épocas de indizível antigüidade, pois, como afirma
Champollion:
“Em Tebas há ruínas que delatam restos de
construções ainda mais antigas, cujos materiais serviram posteriormente para
levantar os
edifícios
que de pé se conservam há trinta e seis séculos... Tudo quanto referem Herodoto
e os sacerdotes egípcios, tem sido
corroborado
pelos arqueólogos contemporâneos"”
Jowett,
na sua tradução das obras de Platão, exalta a transcendência da filosofia
natural dos antigos, a qual, considerada em
harmônico
conjunto, demonstra:
1. Que
os filósofos da antigüidade já conheciam a teoria das nebulosas. Raper,
portanto, estava precariamente documentado
quando
assegurou que tal teoria se derivava das descobertas de Herschel.
2. Que
Anaximenes sustentou no século VI antes de J.C., a teoria da evolução, dizendo
que os animais descendiam dos primeiros
répteis
aparecidos na terra, e que o homem descendia dos animais, conforme ensinavam
também os caldeus antes do dilúvio.
Vejamos
ainda o que disse Manu, 10.000 antes do nascimento de Cristo:
“A água
e o calor desenvolvem o primeiro germe de vida ¾ (Manu,
livro I, dístico 8).
“A água
sobe ao céu em forma de vapor. Do sol desce como chuva. Da chuva nascem as
plantas e das plantas os animais. ¾ (Manu,
liv.
III. Dist. 76).
“Todo ser adquire as qualidades do que
imediatamente o precede. Assim é que, quanto mais um ser assimila o primitivo
átomo da sua
série,
tantas mais qualidades e perfeições reúne”. ¾ (Manu,
liv. I, dis.20).
“O homem há de percorrer todo o universo em
progressão ascendente, passando pelas pedras, plantas, germes, insetos, peixes,
serpentes,
tartarugas, feras, seres pecuários e animais superiores... – Tal é o grau
inferior”. – (Manu, liv. I., dist.20). ”São estas as
metamorfoses
que desde a planta até Brahmã hão de suceder-se neste mundo”. – (Manáu, liv, I,
dist.20).
3. Que
os pitagóricos afirmavam a analogia da terra com os demais corpos celestes. É
irrecusável que Galileu expôs uma teoria
astronômica
já familiar aos hindus desde a mais recuada antigüidade. Segundo demonstrou
Reuchlin, o astrônomo florentino
estudou
fragmentos de obras pitagóricas que ainda se conservavam na sua época. E
Pitágoras, em cuja autoridade se louvava
Platão,
venerando-o como seu mestre, confessava Ter adquirido todos seus avançados
conhecimentos no Oriente. A mesma
doutrina
que Kapilavastu ensinou na Índia, 6 séculos antes de J.C., o sábio de Samos,
discípulo dos teurgos egípcios, iniciado na
escola
de Mochus, nos mistérios de Byblos e Tiro, na super ciência dos magos de
Babilônia, da Caldeia e da Pérsia, divulgou
mais
tarde, iniciaticamente, na Grécia.
4. Os
antigos já asseveravam que as plantas, como os animais, tem sexo. Daí torna-se
evidente que os modernos naturalistas
apenas
seguiram as pegadas dos seus predecessores.
5.
Ensinavam também que as notas musicais estão sujeitas a número em dependência da
tensão da corda vibrante.
6. Que
as leis matemáticas regem o universo inteiro; e admitiam ainda que o número se
originavam as diferenças qualitativas.
7.
Negavam a aniquilação da matéria e sustentavam que se transformava em
diversidade de aspectos.
O eminente
orientalista francês Louis Jacolliot, que durante longos anos se dedicou na
Índia a minucioso estudo da filosofia daquele
país, e,
de modo geral , da sua literatura indubitavelmente mais copiosa e rica que
nenhuma outra, expõe em sua obra Khristna e o
Cristo,
a seguinte tábua analítica
Filosofia
– Aos antigos hindus se
deve a fundação das duas escolas espiritualistas e materialistas, ou sejam a
filosofia metafísica e a
positiva.
Fundou a primeira Vyasa, chefe da escola vedantina. Fundou a Segunda Kaplia,
chefe da escola sankya.
Astronomia
– Os indús traçaram o
calendário e o zodíaco, calcularam a precessão dos equinócios, descobriram as
leis gerais da
mecânica
celeste, predisseram e observaram os eclipses.
Matemática
– Inventaram o sistema
décuplo, a álgebra e o cálculo infinitesimal,. Metodizaram a Geometria e a
Trigonometria com
demonstração
de teoremas não conhecidos na Europa até os séculos XVII e XVIII. Os brâmanes ,
foram, indubitavelmente, os
primeiros
a determinar a área do triângulo e estabelecer a relação entre a circunferência
e o diâmetro. Também se lhes deve o
teorema
e a tábua erroneamente atribuída a Pitágoras. A tábua de multiplicar está
esculpida no gôparama dos principais pagodes.
Física – Enunciaram o conceito do universo como um
todo harmônico sujeito a leis determináveis pela observação e a experiência.
Fundaram
a hidrostática e descobriram o famoso princípio , também atribuído erroneamente
a Arquimedes. Os físicos dos pagodes
calcularam
a velocidade da luz e descobriram as leis da reflexão. A julgar pelos trabalhos
de Surya-Sidhenta, conheceram e
calcularam
a potência expansiva do vapor da água.
Química – Conheceram a composição da água e
enunciaram a lei dos volumes, que na Europa há muito pouco se conhece. Sabiam
preparar
os ácidos sulfúrico, nítrico e clorídrico; os óxido de cobre, ferro, chumbo,
estanho e zinco; os súlfures de ferro, cobre,
mercúrio,
antimônio e arsênico. Os sulfatos de zinco e de ferro, os carbonatos de ferro,
chumbo e sódio; o nitrato de prata e a pólvora.
Medicina
– Nesta ciência foram em
toda a linha assombrosos os antigos hindus, Tcharaka e Susruta, os dois
príncipes da Medicina
indiana,
expuseram os aforismos que mais tarde Hipócrates assimilou. Susruta estabelece
admiravelmente os princípios da higiene ou
medicina
preventiva, cuja importância ele sobrepõe à Medicina curativa, que qualifica de
empírica em muitos casos. Não deixa de ser
interessante
que os médicos árabes, tão famosos na Idade Média, entre eles Averrhoes, citam
constantemente os médicos hindus,
considerando-os
como seus mestres e dos próprios gregos.
Farmacopéia
– Conheciam os simples
com todas suas propriedades e usos, de modo que deram muitas lições à Europa
neste ponto.
Deles
aprendemos o tratamento da asma, por meio do estramônio.
Cirurgia
– Não foram menos
excelentes nesta arte. Souberam extrair os cálculos urinários, operaram as
cataratas e tiveram suma
habilidade
em obstetrícia cirúrgica. Tcharaka descreve os casos anormais e perigosos com
notável precisão científica.
Gramática
– Cultivaram o sânscrito,
que se avantaja admiravelmente sobre qualquer outro idioma; dele derivam as
línguas indoeuropéias e a maior das orientais.
Poesia – Foram consumados mestres em todos os
gêneros. Os dramas Sakuntala, Avrita, Fedro, Saranga, e outros muitos, superam
os de
Sófocles, Eurípedes, Corneille e Shakespeare. Ninguém os igualou na poesia
lírica. Para se formar um preciso conceito do
esplendor
alcançado por este gênero na Índia, é preciso ler, na passagem do Megadata, as
lamentações do desterrado que suplica a
uma
nuvem leve sua saudade de condenado longínquo à cabana onde moram seus parentes
e amigos, que não mais tornará a ver. As
fábulas
hindus tem fornecido, em todas as épocas, argumento para todas as literaturas
do mundo.
Música – Inventaram a escala musical com tons e
semitons, muito antes de Guido e Arezzo.
Arquitetura
– Nesta arte os hindus
esgotaram quanto pode conceber o gênio do homem. Zimbórios de insuperável
audácia; cúpulas
cônicas;
mármores minaretes; torres góticas; hemiciclos gregos; policromias; todos os
estilos e todas as épocas tem ali seu berço,
indicador
da origem e vestígios das colônias que, ao emigrar, levaram consigo os
testemunhos da arte indígena”.
Em 1888,
dizia H.P. Blavatsky, ao escrever Ísis sem Véu:
“Achamo-nos no final de um grande período da
Kali-Yuga ária, que começou há uns 5.000 anos, com a morte de Khrisna, e daqui
até
1897
será feito um grande rasgão no véu que encobre a Natureza e a ciência
materialista sofrerá um rude golpe de morte”.
“Sucedeu
– comenta M. Roso de Luna – tal como intuiu aquela vidente abnegada, que só
calúnias e injustiças recebeu da sua época.
O Véu de
Ísis do mais além da molécula e do átomo materiais, começou a romper-se
primeiro com as fórmulas cinéticas, de Maxwell,
depois,
em 1895, com a descoberta de Becquerel sobre a radioatividade do urânio,
seguida pela do tório que, em 1897-98, Schmidt
comprovou,
e em 1900 foi evidenciada pelo casal Mac-Curie sob as ocultas energias do rádio
e do polônio, e por Debierne no actínio.
Foi
estabelecido, então, pela primeira vez o princípio outrora ocultista e
metafísico de que no existe diferençia esencial entre la
energia
y la materia, cual si ésta fuese no más que una ilusión de nuestros sentidos
debida á la entropia de la energia oculta, e pôde o
próprio
químico Oswald definir o corpo, não como algo grosseiro e tangível, mas sim
como um mecanismo completo integrado por três
formas
de energia ou força: a chamada de volume – variável com os meios operatórios –,
a de gravitação – variável de astro para
astro e
ainda em distintas latitudes da Terra – e a de movimento – , conceito de
energia que, qual os de espaço e tempo, dificilmente
poderá
alguém explicar sem recorrer à Filosofia.
“Rompido deste modo o Véu do Mistério Cósmico,
a ciência se despenha pelo plano inclinado do Ocultismo. Seu primeiro passo foi
reivindicar
– oh infantil Humanidade! – os alquimistas antes tão caluniados, comprovando
com Ramsay que o rádio em tubo fechado
se
transmuda em hélio se está só, em néo, se dissolvido em água; em argo, se de
mistura com soluções argênteas ou cúpricas; em
lítio,
si se opera com sulfato ou nitrato de cobre, e até no oxigênio e no carbono do
óxido carbônico, si se usa o nitrato de tório ...
“Quando Blavatsky, em 1888, falou aos modernos
acerca daqueles sábios rosacruzes e alquimistas que transformavam em ouro todos
os
chumbos: o da mina e o dos nossos vícios, pouco faltou para ser crucificada
fisicamente, já que em espírito bastante crucifica o foi
com os
tópicos notórios de “louca” e “impostora”, dados por uma passional academia
docente para não perder o inveterado costume
das
ortodoxias, chamem-se papais ou científicas. Hoja, quando os sábios comprovam o
que aquela já havia dito, toma-se como artigo
de fé
dos modernos dogmatizadores o que antes foi objeto de mofa, mas não por isso se
abrem os olhos e o coração à catarata de luz
que
irradia da Ciência Ária que H.P. Blavatsky nos trouxe, ciência caluniada também
com enorme descaramento pelos Sprengel, pelos
Max
Müller, sob as melhores aparências científicas”.
Curioso
capricho o dos sábios positivistas: tudo é “charlatanismo” até que eles façam a
descoberta e a batizem...
Sempre
foi um gesto temerário desnudar-se demasiado a Verdade aos olhos dos homens.
“Os Filhos da Verdade são combatidos, sempre, como
seres perigosíssimos. A humanidade só recebe com agrado os que a ludibriam,
perdem e
sacrificam”. A frase é do célebre conde de Saint-Germain, frase típica da
amargura provada no mundo pelos excelsos
emissários
da Hierarquia Oculta, tal como o foi o misteriosos conde grande amigo de Maria
Antonieta –, “o maior Adepto oriental que
já
passou pela Europa – afirma H.P. Blavatsky – sem que esta soubesse
compreendê-lo”. Era outro “louco”, outro “impostor”, a quem
um homem
de tão irrequieta malícia e agressivo cepticismo como Voltaire considerava como
“possuidor dum saber universal” ...
Por
evidentes razões de espaço, deixamos de levar mais longe nossas apreciações
sobre os pormenores de tão vasto e convidativo
campo,
ao qual retornaremos, porém, em futura série de novos ensaios pois neste número
termina a série de Mosaicos cujo autor
realizará
noutros estudos a promessa que deixou, numa das anotações do capítulo II deste
trabalho, dum comentário mais
desenvolvido
em torno da iniciática expressão numérica 1001, um dos mais sublimes e
transcendentes hieróglifos, tão relacionado
com
magia que envolve a arcaica e gloriosa obra oriental As Mil e Uma Noites.
Tais
nomes foram Pitágoras, Platão, Jâmblico, Apolônio, Solon, Cícero, Sêneca, Plutarco,
Ésquilo, Plotino, Herodoto, Virgílio, Sófocles, Orígenes, Tales de Mileto, Filo
Judeo, Averrhoes, Ibn Gebederaol, AL-Haken, Harun Al Raschid, Rogério Bacon,
Ossian, Ragon, Geber, Petrarca, dante, Godofredo de Bouillion e muitos outros,
cujo verbo consciente, espelhando as mais soberbas respostas à velha Esfinge
solerte, até hoje leva os modernos a meditar e discutir, embora pese no amor
próprio sofístico da superficial e acovardada mentalidade céptica, agnóstica ou
positivista.
Entre
os Édipos modernos, nenhum mais representativo, por força mesmo no sentido
oculto da sua missão na terra, que o incansável iniciador de homens, – por
estes cognominado o Mago de Logrosan – o filalético e harmonista perfeitos, o
analogista ou hermético presciente, exegeta agudo, vigoroso e dinâmico de toda
a Oculta Filosofia dos antigos, Mario Roso de Luna: Mestre de mestres no manejo
difícil das chaves da arcaica simbologia histórico-religiosa, chaves que são
leis secretas duma super ciência, em seu tolo e última essência só a eleitos
confiada e com as quais é dado reencontrar-se íntegra, em sua pureza
originária, a Perdida Verdade.
Acompanhemo-lo
através de algumas páginas suas, terça faces daquele verbo jina que dominou no
ocidente como nenhum outro Símbolo; verbo de convicções altíssonas que jamais
os tempos desmentirão, estuante dessa estranha febre interna que ao grande
clarividente, ao apóstolo dos ideais predestinados distingue.
São
fragmentos da resposta formidável do seu gênio como excelso intérprete do mundo,
à vetusta Esfinge de fatais inércias:
O DUALISMO CRUEL DA VIDA DO HOMEM 21
“As ciências positivas,
que são gloriosas conquista de nosso tempo, ensinam com Lamamrk Darwin, Wallace
e Haeckel, que o homem é a coroa ou o triunfo de toda uma lenta evolução
arqui-secular, que começou nos mares primitivos pela sárcoda, a monera, os
protozoários, para continuar, através das ordens inferiores do reino animal até
chegar aos vertebrados e ao homem de nossos dias, afinal.
21 O
publicitário Herrera Filho, nome firmado no jornalismo pátrio, e membro da
Sociedade Teosófica Brasileira, traduziu essas páginas
belíssimas
do Mago de Logrosan.
Valioso
serviço já prestou Herrera Filho às letras nacionais, ao traduzir e publicar no
jornal do Brasil, no período de 23 de novembro de
1935 a 7
de março de 1936, toda uma obra do Mestre Mario Roso de Luna ¾ La Humanidad y los Césares. Essa obra ,
como reza
seu
subtítulo, representa “suscitaciones teosóficas com motivo de la guerra
actual”, ou seja a de 1914. Agora que os senhores da
Europa
empenham a sorte do continente numa outra guerra mais ampla, reputamos
oportuníssima a leitura de A Humanidade e os
Césares,
sendo verdadeiramente lamentável que os editores brasileiros não tivessem posto
sua atenção sobre aqueles artigos, de
modo a
enfeixá-los em volume, e facilitar ao povo, assim, um conhecimento mais exato
do que foram realmente os tiranos – fatores
precipites
da decadência das civilizações – desde a Atlântida até os dias em curso,
através de uma nova crítica histórica, tal como só
um
teósofo pode fazê-lo.
“Esta história humana que
abarca milhares e milhares de séculos, como nos informa a Paleontologia, está
escrita no mais íntimo de nossas tendências e paixões de pura animalidade; em
nossos vícios, em nossas imperfeições e em todas nossas covardias. É uma
herança, um lastro fatal, um carma, que triste e constantemente nos atrai para
a animalidade sobre a qual outrora triunfaremos com a evolução, neste ou em outro
planeta. É uma colheita de velhas dores que, ao nascer, nos torna, em verdade,
as criaturas mais desvalidas da terra.
“Mas existe também no mais íntimo de nosso ser força invencível
e secreta, essa força que noutros afastados tempos nos redimira do reino animal
e que, dada a lei axiomática do progresso indefinido dos seres, está destinada
a libertar-nos de nossas passadas e atuais imperfeições, para levar-nos a esses
estados superiores intuídos por todos os pensadores e poetas: para o homem
representativo de Emerson, o super homem de Carlyle e Nitzsche; o semideus das
concepções do paganismo; o gênio, o anjo, o nume protetor , o vidente, o sábio,
o profeta, o herói, o iniciado, o Irmão Maior da Raça, e tantas e tantas outras
denominações empregadas constantemente em todos os países, para designar um estado
ulterior de progresso que, se bem foi alcançado até hoje por poucos, cada dia
vai sendo patrimônio de muitos, à medida que avança nossa idealidade e nossa
cultura, porque, segundo disse Castelar: “Assim como a Bíblia foi completada
pelo Evangelho, o Evangelho por sua vez será completado por novas Revelações, e
após a Idéia do Pai e do Verbo virá a do espírito para infundir na Humanidade,
regenerada e livre, novas e consoladoras esperanças”.
“Estas duas forças de inércia e de progresso; do passado e do
futuro; do que foi e do que há de ser, fazem do homem um verdadeiro guerreiro
que não pode Ter um momento de paz sobre a Terra, e que, apoiando seus
doloridos pés num presente sempre mentido e fugaz, é atraído por sua vez ao Céu
dum Ideal não definido ainda e para a Terra de um passado de dolorosas
misérias.
Semelhante estado de luta tem sido cantado de modo simbólico por
todas as epopéias. Os heróis das teogonias chamam-se Arjuna, no Mahabharata”;
Aquiles, na “Ilíada”, Ulisses, na “Eneida”; Psique, na legenda de Apuleio;
Dido, na “Odisséia”, Prometeu, na tragédia de Ésquilo: Dante, na “Divina Comédia”;
Adão, no “Paraíso Perdido”; Fausto, na obra imortal de Goethe; etc., etc., são
o protótipo do guerreiro ideal da Humanidade em todos e em cada um de nós, para
a conquista de uma Astinapura, de uma Tróia, de um Eros, de uma Beatriz; de um
Céu ou mundo Oculto de Amor e Pensamento, enfim, que seja coroa do triunfador e
proporcione uma vida transcendida, ou de deuses, a esta vida misérrima de dores
como homem; e se as desesperadas elegias dos Byron e dos Espronceda, a ponto de
sucumbir nessa batalha de Titãs, puderam dizer que ou a matéria estorva ou estorva
o espírito, o bom sentido, de acordo com a mais alta filosofia, nos demonstra,
pelo contrário, que , nascidos para a luta de hoje e não para uma calma que só
há de vir no amanhã resplandecente da vitória, não sobra, não, nenhum dos dois,
porque o passado é pai do porvir, e porque, se é certo que um globo sem gás não
pode subir, não o é menos que se perde irremediavelmente sem o lastro, esse
lastro que parece atraí-lo para a Terra e que, bem considerado, o que faz é
ascender e remontar nas asas dos gases que o impulsionam, como a Humanidades
eleva a si mesma, graças a seus impulsos para o Ideal, para o Divino”.
Ilustração: gravura
Legenda: “... a Psique mortal das lendas buscando às cegas um
Eros, um esposo divino...”
Compilado por: Eliseu Mocitaíba da Costa